segunda-feira, 22 de novembro de 2010


Silêncio! Nenhum pio. Não vou falar nada. Já que sou tão imprópria, inadequada, boba. Já que nunca basto e se tento me excedo. Já que não sei o que deveria ou exagero em querer saber o que não devo. Nunca entendo exatamente, nunca chego lá, nunca sou verdadeiramente aceita pela exigência propositalmente inalcançável. Meu riso incomoda. Meu choro mais ainda. Minha ajuda é pouca. Meu carinho é pena. Meu dengo é cobrança. Minha saudade é prisão. Minha preocupação, chatice. Minha insegurança, problema meu. Meu amor é demais. Minha agressividade, insuportável. Meus elogios causam solidão. Minhas constatações boas matam o amor. As ruins matam o resto todo. Minhas críticas causam coisas terríveis. Minhas palavras cuidadas incomodam. Minhas palavras jogadas, mais ainda. Minhas opiniões sempre se alongam e cansam. Minhas histórias acabam sempre no egocentrismo. Meu sem fim dá logo vontade de encurtar. Minha construção, desconstrói. Meus convites quase nunca agradam. Meus pedidos sempre desagradam. Meus soquinhos de frases são jovens demais. Meu bombardeio de coisas sempre acaba em guerra. Minha paz que viria depois nunca chega, pois eu nunca chego. Minha voz doce assusta. Minha voz brincalhona é ridícula. Minha voz séria, alarde. Se digo algo sobre minha vida, só sei falar de mim. Se digo algo sobre a vida de alguém, coitada de mim, achando que sei alguma coisa da vida. Se falo sobre coisas, me sinto mais uma delas. Se digo certeiro, acabou. Se digo errado, nunca acaba. Porque toda vez que eu pergunto, quase ofende. E se respondo, ofende mais. E se são três pontinhos, não posso. Se começo, preciso terminar. Mas quando termino, já não está mais. Se repito, quase explode. Se não explico, pareço louca. Se explico, sou louca. Se for o que eu penso, eu penso errado. Se for o que eu não penso, errei por não pensar. Se não for nada disso, eu que pensasse antes. Se estou animada, cuidado com a rasteira. Se estou desanimada, não tem motivo para eu estar. Quieta. Isso! Você consegue! Nenhum pio. Combinei comigo.