terça-feira, 9 de novembro de 2010

Não me aguento mais chorando pelos cantos, porque não aguento mais sempre ser apontada como a sofredora, a guerreira, a sobrevivente. Afinal de contas, qual foi a guerra que eu entrei que eu não me lembro? Não me deram uniformes e nem fardas, não me ensinaram a atirar e a me esconder de granadas. Não quero mais guerra, quero paz! Quero acordar de manhã, ir pra praia e sentar na areia sem pensar em quem vou encontrar, no que vou dizer, em quem vai ser meu amigo naquele dia. Não quero mais saber de números, de pessoas repetidas, de forçar melhores amizades só pra não me sentir imensuravelmente sozinha. No fundo, afinal, todos somos sozinhos. Ninguém nunca vai me entender por completo porque só quem tem a capacidade de me completar sou eu, não quero mais buscar complemento em nada. Não quero que minhas palavras sejam mais fortes do que eu, que meus pensamentos me deixem o dia todo presa em um canto da casa só, maquinando na minha cabeça como a minha vida poderia ser boa se eu me deixasse viver. Não quero chegar aos trinta como cheguei aos vinte, pensando que não alcancei nada do que disse que queria, do que achava que queria, do que me faria ser aquela pessoa que meus pensamentos em círculos sempre me disseram que eu deveria ser pra que eu, finalmente então, pudesse ser livre. E feliz. Não quero mais usar minha licença poética só pra falar de sentimentos quebrados, minha habilidade de enfileirar as palavras só pra falar do que nem eu mesma aguento mais ouvir porque parece um cd riscado que há quase trinta anos toca a mesma música do nascer ao pôr do sol. Não quero mais muitas coisas que, na verdade, nunca quiz mas sempre vivi porque achava que eu precisava, que eu deveria. Não quero mais magoar quem me ama, a começar por mim mesma, não quero mais impor as minhas vontades quando eu não sei se quero mais tê-las. Não preciso, não devo, não quero!